A verdade sobre a causa dos assassínios intermináveis na maior parte da Nigéria permanece totalmente desconhecida. Depois da guerra civil de 1967, que levou à morte de mais de três (3) milhões de vidas e à deslocação de muitas pessoas, a Nigéria, enquanto país, continuou a sofrer focos de agitação em algumas partes do seu território, mas não com a frequência e a natureza organizada que temos hoje. A situação é tão grave que até os meios de comunicação social locais se vêem obrigados a divulgar notícias pouco exatas para assim não aumentar a tensão no país. Os jornalistas que investigam e reportam para além da área de cobertura autorizada desaparecem passado algum tempo ou permanecem escondidos de forma permanente para o resto das suas vidas. Além disso, por muito crítica que seja a questão, dificilmente a encontramos nos meios de comunicação ocidentais, apesar da forte presença da BBC, da Aljazeera e da CNN na Nigéria. Este facto pode sugerir várias situações: primeiro, que pode haver uma conspiração com autores locais e internacionais ou que há patrocinadores desconhecidos por detrás destes assassínios, cujos rostos devem permanecer ocultos.
A Nigéria é um país abençoado com uma abundância de minerais descobertos e por descobrir e de recursos humanos. A sua falta de avanço tecnológico tornou-a um campo de batalha para potências tecnologicamente avançadas que procuram recursos e domínio. Nos últimos vinte anos, tem-se assistido, a todos os níveis, a um aumento constante da violência contra cidadãos inocentes. É falso assumir que as vítimas destes ataques são apenas os cristãos, embora estes continuem a ser os principais alvos destes ataques perpetuados por grupos terroristas sob várias formas. Basicamente, há um grupo fora da lei a atuar em todas as partes da Nigéria.
Na maior parte dos estados do Norte da Nigéria, o Boko Haram, o Estado Islâmico da África Ocidental e as suas filiais estão em conluio com os governos locais e estaduais para levar a cabo ataques organizados contra cidadãos desprevenidos em nome da expansão da agenda islâmica no país. Na região Sul-Sul, encontramos os Militantes do Delta do Níger, um grupo que luta contra o governo e os criminosos internacionais que roubam o petróleo e destroem as terras, dificultando a sobrevivência dos habitantes locais. IPOB é o nome do grupo proscrito que atua na região sudeste do país. O seu mantra é a emancipação completa e a retirada da raça Ibo da Nigéria. Sob este pretexto, levam a cabo ataques terríveis contra cidadãos inocentes e amantes da paz. Existem outros perigosos grupos autóctones em miniatura espalhados por todo o país. A presença destes grupos e as suas atividades sobrecarregaram a arquitetura de segurança da Nigéria. Por isso, a utilização das máquinas e agências de segurança pelo governo falhou. Embora as nossas agências de segurança sejam altamente treinadas, perante esta ignominiosa destruição das vidas dos nigerianos, parecem incompetentes.
O rapto não é um conceito novo. Este é definido como o rapto de uma pessoa pela força ilegal, sendo levada através de engano e mantida contra a sua vontade, com um pedido de resgate, (Uzorma & Nwanegbo-Ben 2014). A razão subjacente ao rapto tem sido atribuída a motivos políticos, económicos, religiosos e, por vezes, ao desejo de mostrar superioridade ou supremacia. Seja qual for o motivo, expõe as famílias das vítimas a sofrimentos absurdos e a uma devastação psicológica. Atualmente, existe também o rapto para colheita de órgãos humanos, que está a alastrar rapidamente. Tornou-se uma indústria multibilionária à espera de explodir. Na maioria dos casos, os resgates são pagos, mas as vítimas nunca regressam às suas famílias. Muitas vezes, as atividades destes raptores ocorrem em zonas rurais e remotas, onde a presença militar é escassa ou praticamente nula. Visam até crianças e mulheres grávidas. Ninguém está isento.
Os Claretianos que trabalham em diferentes partes da Nigéria tiveram a sua quota-parte de experiência. Nada menos que cinco (5) dos nossos irmãos foram vítimas desta ameaça no passado, mas tivemos a sorte de não perder nenhum. Muitos padres, irmãs e seminaristas perderam a vida no passado recente. Devido ao facto de trabalharmos nas periferias, os nossos irmãos são os mais vulneráveis. O P. Jude Igba CMF e o P. Louis Ajinge CMF, por exemplo, trabalham em Uzea na Diocese de Uromi do Estado de Edo. O lugar é conhecido por atividades de sequestro, mas os nossos irmãos têm de ficar para poder cuidar os rebanhos confiados aos seus cuidados como pastores dessa mesma missão. Nos últimos tempos, Kabba, na diocese de Lokoja, onde está situada a Escola Secundária Claret, também tem sido suscetível de ataques dos Fulani e das invasões de bandidos. Os irmãos que vivem e trabalham ali estão sempre em alerta máximo.
Recentemente, D. Wilfred Anegbe CMF, bispo da diocese de Markurdi, compareceu perante o Subcomité dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes dos EUA para expor uma agenda destinada a eliminar a maioria cristã na sua diocese. Esta agenda está em marcha há mais de 10 anos e o governo federal pouco tem feito para resolver esta crise humanitária que também tem impacto na vida económica da nação em geral. A vida de D. Wilfred foi ameaçada várias vezes por ele ter tido a coragem de se pronunciar perante uma agenda expansionista islâmica sofisticada que inclui o rapto e a destruição gratuita de vidas e propriedades de nigerianos inocentes que amam a paz. Depois do rapto das raparigas de Chibok, orquestrado pela administração Obama dos Estados Unidos e pelo Primeiro-Ministro britânico, David Cameron, pouco se ouve falar de atividades de rapto na Nigéria nas estações de comunicação social internacionalmente reconhecidas, como a BBC, a CNN e a Al Jazeera. Obviamente, a rejeição do aborto e dos direitos dos homossexuais pelo Presidente Goodluck Ebele Jonathan provocou uma conspiração internacional contra a nossa democracia nascente e, até à data, muitas vidas inocentes estão a pagar por aquilo que desconhecem.
O rapto na Nigéria é atualmente uma arma de escravização moderna. Os bandidos que levam a cabo estas atividades são muito bem pagos e utilizam armas modernas e sofisticadas que estão para além do que as forças armadas nigerianas se podem dar ao luxo de utilizar. Obviamente, existe uma conspiração internacional para manter a Nigéria numa situação miserável, enquanto atores gananciosos colhem os dons naturais da nação. Para que esta conspiração seja eficazmente e bem sucedida, colaboram com políticos de topo e funcionários governamentais locais corruptos e egoístas. A vida de qualquer pessoa que questione as suas atividades está em perigo. As suas famílias são visadas e, quando possível, são mortas. Recolhemos de fontes fidedignas que estes bandidos são muito bem pagos em dólares e não em naira, que é a moeda local da Nigéria. São pagos para raptar, mutilar e causar instabilidade, enquanto gozam de imunidade por parte do governo corrupto e das agências de segurança. Os helicópteros são enviados para transportar alimentos, armas e provisões para amortecer os efeitos das dificuldades destes bandidos nas florestas onde se escondem, enquanto os cidadãos cumpridores da lei morrem de fome e de estrangulamento económico.
Ninguém compreende melhor o estado da nação do que o homem comum, cuja próxima refeição não está garantida. São estas as pessoas com quem trabalhamos nas periferias das nossas missões. As atividades de sequestro reviram um país que era conhecido pelo seu trabalho árduo, grandeza e crescimento sem paralelo em todos os sectores da sua vida nacional e económica. Uma fonte que pediu anonimato revelou que os grupos de bandidos e criminosos unem-se e colaboram para levar a cabo ataques de rapto em massa e transportar as suas vítimas para locais escondidos, onde são exigidos resgates aos familiares das vítimas utilizando os seus próprios telemóveis. Quando os familiares não efetuam o pagamento em prazos específicos, as vítimas são mortas e os seus órgãos recolhidos. Esta comercialização é um novo cancro que ainda não tem remédio. No calor de todas estas tensões, um antigo Chefe do Estado-Maior do Exército da Nigéria, T.Y Danjuma, apelou aos nigerianos para que se erguessem e se defendessem dos agressores, uma vez que o governo não consegue garantir a segurança dos seus cidadãos. É este o estado de coisas neste momento.
É bom saber que as pessoas estão a fazer tudo o que é possível para se manterem vivas. O fracasso contínuo do governo em garantir a vida e as propriedades dos seus cidadãos já não é estranho aos nigerianos. Continuam a surgir pequenos grupos de vigilantes, mas até que ponto é sustentável a coragem de que dão provas? Não têm a sofisticação, a formação e as armas necessárias para se defenderem, mas têm coragem e esperança. São eles os verdadeiros heróis na guerra contra o rapto e o banditismo.
Referência:
Uzorma, P.N., & Nwanegbo-Ben, J. (2014). Desafios da tomada de reféns e do rapto no sudeste da Nigéria
Escrito por Kenneth Ugochukwu, CMF.